quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Segregação travestida de inclusão


para Ginez Garcia que me ofereceu o mote

Quase diariamente eu preparo um resumo de notícias a respeito de deficiência, inclusão, educação e temas correlatos chamado Novidades do dia. Para editá-lo recebo links de colaboradores e também notícias pelos Alertas do Google.

Dia sim, outro também, aparece alguma notícia a respeito da criação de novos centros de formação, capacitação, preparação (ou qualquer outro nome bonito que queiram dar) de pessoas com deficiência. São criados pelos poderes públicos, prefeituras e estados, por organizações não governamentais e pelo setor privado.

A notícia sempre destaca a colaboração que esse tipo de centro vai dar à inclusão dos "coitadinhos dos deficientes" (não, eles não usam essa expressão, mas é exatamente esse o tom do discurso).

Alguns centros são para pessoas com deficiência em geral (mas só para pessoas com deficiência), outros para pessoas com deficiências específicas.

Exemplos típicos de segregação em nome da inclusão como bem notou o Ginez Garcia.

Ainda existe muita gente que acha que incluir é preparar as pessoas com deficiência para serem aceitas na sociedade, uma deslavada mentira.

Incluir é preparar a sociedade para conviver com todas as pessoas (independentemente de raça, sexo, classe social, deficiência ou qualquer outro fator de exclusão)

Para que centros profissionalizantes segregados? Não bastaria que as escolas profissionalizantes recebessem todos os tipos de pessoas?

Por que gastar rios de dinheiro com a construção de infraestrutura nova se é muito mais barato fazer as adaptações necessárias nos locais já existentes? (quem é que ganha com isso?)

Formação escolar ou profissional de pessoas com deficiência em ambientes separados do resto do mundo traz duas consequências óbvias:

A primeira é que essas pessoas com deficiência serão formadas para continuarem "deficientes", incapazes de viver autonomamente fora de contextos protegidos (e depois vão trabalhar em cooperativas de trabalho protegido recebendo esmolas a troco de trabalho escravo)

A segunda é que as pessoas sem deficiência nunca estarão preparadas para receber as que tem deficiência, pois a convivência nunca existiu. O que, certamente, continuará a alimentar a industria de "sensibilização" para receber esses alienígenas.

Infelizmente, as próprias pessoas com deficência ainda acreditam que isso é um benefício, que depois vai ser retribuído com votos.

A sociedade, que defende que os fins justificam os meios, agradece por não precisar mudar seu status quo.

Descrição da imagem: desenho de uma casa presa por correntes e fechada com um cadeado

5 comentários:

Arimar disse...

Fábio.
É uma grande verdade .
Infelismente a inclusão que só exclui toma cada vez mais espaços na sociedade e principalmente na Educação.
A quem querem enganar?
O que querem manter?
É mais que lamentável. É vergonhoso !!
Beijos

Anastázia Ladeira disse...

Ótimo, Fábio! Não são os excluídos que têm que se preparar para a inclusão. Parece tão óbvio, mas as pessoas têm muita dificuldade para entender isso. Beijo.

Anônimo disse...

O caminho ainda é longo para que nossa sociedade aprenda a conviver com a deficiência. A inclusão só existirá de fato quando o assunto for tratado de maneira séria e consciente, principalmente por nossos governantes.
Abraço

Anônimo disse...

Fábio, superar a ignorância dos outros é igual a ser ignorante também. Não consigo, porém, anestesiar-me dessa repetição em massa do que não queremos para nós e para todos. Entre o estímulo e o cansaço essa oposição, essa ida contra a maré, há muito me deixa perplexo. Tanta gente contra o óbvio, tanta gente contra o natural... já cheguei a escutar que o natural é que pessoas com deficiência, por identidade, se juntam na mesma deficiência e se sentem melhor assim. Já convivi muito com a minha espécie, a de cegos, para entender com carinho que sou um homem, uma pessoa, um marido e um pai antes de ser cego. Mas minha deficiência está na cara, reflete na sociedade como um espelho de não transposição de barreiras. Dizem que um dia chegaremos à normalidade, à igualdade, mas eu quero chegar à minha deficiência, pura, limpa dos pensamentos de quem não as vive, para apenas chegar a todos e perguntar: como vão? Eu sou o MAQ, muito prazer.
Abraços inclusivos do MAQ.

Naziberto disse...

Parabéns por esse e todos os outros posts Fábio.
Realmente esses discursinhos furados de criação de centros especiais, locais especiais, de atendimento, de tratamento, de convivência, de capacitação, de qualificação, entre outras tolices exclusivas para pessoas com deficiência já está enchendo o saquinho da gente.
E esses governantes posam de heróis, de beneméritos, de modernos salvadores da pátria. Como eu digo, apresentam miolo mole de Idade Média, mas com uma casquinha toda crocante de Idade Mídia e com um poder de propaganda e marketing extremamente aromático.
Receita ideal na vitrine para os incautos cairem no conto do vigário e para que seja mantida a ordem "perfeita" das coisas, ou seja, eles com eles e nós com nós, tudo encaixadinho, cada um no seu quadrado.
Pelas barbas de Michel Foucault batman!! !

abs.