sábado, 16 de abril de 2011

Pimenta no umbigo

Nada mais natural aos seres humanos que passar a vida admirando os seus umbigos. Seja o que lhe foi dado por natureza, sejam aqueles metafóricos.

Enquanto os umbigos naturais não costumam ter mais que um centímetro de diâmetro, os metafóricos variam muito de tamanho. Para alguns se limita a visão de si mesmos, alguns estendem o raio metafórico umbilical ao seu núcleo familiar, outros a uma amplitude maior de parentes e amigos.

Não importa o tamanho, todos nós temos um raio definido de proteção umbilical. A Cláudia Werneck já tinha mapeado bem essa questão no seu excelente "Quem cabe no seu todos?"

Se você acha que sua cabeça não funciona assim, você só está só se enganando a si próprio. É verdade que o processo de auto enganação também é típico dos terráqueos.

Não é diferente nas comunidades das pessoas com deficiência. Seja a atitude umbilicalista, seja o discurso me engana que eu gosto.

Todos se dizem inclusivos, todos querem uma sociedade equalitária e justa. Todos são defensores dos direitos coletivos.

Até a hora em que uma situação que parece ser inofensiva faz com que a pessoa mostre até onde vão os limites do seu umbigo.

Pode ser quando uma professora mencione as muitas exclusões de uma escola, e alguém imediatamente ressalte que o que se precisa resolver é a inclusão de pessoas com a mesma deficiência do seu filho (e os outros que se lixem...)
Ou quando uma mãe reclama que a classe do seu filho (com a deficiência X) está sendo prejudicada por uma criança com transtorno mental Y (sim, sim, eu já ouvi essa)

Quando o homossexual diz que o pior cego é aquele que não quer ver.

Quando o amputado diz que a coisa está preta.

Quando familiares de pessoas com deficiência distribuem piadas pela internet sobre a falta de um dos dedos do ex-presidente.

Eu mesmo já cometi minhas umbigadas. Na última, a Cláudia Grabois, educadamente me corrigiu sobre o uso do termo judiar... e eu aprendi.

O problema maior nem é darmos essas mancadas. Duro é quando a pessoa tenta nos convencer de que ela está certa e nós estamos sendo radicais e mal humorados.

Aí a defesa do umbigo se torna uma questão de honra.Quando não de briga

Afinal de contas, já dizia o ditado que, pimenta nos olhos dos outros é refresco.

Ou será que deveria ser pimenta no umbigo dos outros?

Descrição da imagem
: close de um umbigo com grãos de areia em volta do mesmo