sexta-feira, 21 de maio de 2010

Pesos e medidas

Eu gosto muito de entender os discursos que estão escondidos atrás de palavras jogadas no espaço, desde o meus tempos de faculdade (obrigado Beth Brait e Nina Rosa) aprendi a gostar de Barthes e outros seres estranhos que se preocuparam com esse tema. De certa forma, eu admito, isso se tornou uma prática um tanto quanto obsessiva na minha vida. Para completar o cenário, a minha área de atuação profissional é riquíssima em exemplos ideológicos travestidos de palavras de ordem.

Por uma questão pessoal e familiar (sou pai de uma criança com deficiência) eu fui me engajar na militância pela educação inclusiva. No começo cheguei a acreditar que a questão era a da inclusão de pessoas com deficiência, com o tempo descobri que as exclusões e segregações são muito mais amplas que somente desse grupo.

Nesse meio tenho sido brindado com uma enormidade de falas repletas de máscaras. Uma das mais comuns é a de acreditar que inclusão é sinônimo de pessoa com deficiência. De chamar de inclusão atividades que se restringem a esse público, a ponto de chamar os próprios alunos com deficiência de "incluídos" (nunca me explicaram direito qual terminologia usar com os demais alunos)

Outra máscara hipócrita é a tal da inclusão "responsável". Aqui nesse blog eu mesmo já me declarei um irresponsável por criar meu filho num ambiente que seja igual para todos os seres humanos. Toda vez que ouço ou leio alguém usar esse termo já sei que estou diante de um inimigo da inclusão. Como é feio ser contra a inclusão, eles preferem dizer que são a favor da inclusão de alguns e não de todos (até porque devem acreditar que nem todos os seres humanos sejam muito humanos)

Como o mundo vive em mudanças, novos discursos desse gênero surgem a todo momento. Esse ano o MEC resolveu premiar as experiência educacionais inclusivas bem sucedidas pelo país afora. Uma atitude, a meu ver, bastante louvável, precisamos difundir mais casos de sucesso e mostrar que a inclusão não é uma missão impossível como querem fazer crer seus inimigos.

O que me chamou a atenção foi o fato de que, quando as tentativas de inclusão fracassam os educadores sacam dos seus coletes o discurso das "dificuldades de aprendizagem" dos alunos, mas quando as experiências são bem sucedidas o mérito é das escolas.

Ou seja, se dá errado a culpa é do aluno, se dá certo os louros são dos educadores. Alunos são vilões, professores, super heróis.

De novo, não acho que a questão seja de atribuição de culpas, mas de usar os mesmos pesos e medidas para todos os que participam da educação. Alunos, educadores e pais. Para o bem e para o mal.

Quem sabe na próxima edição do prêmio do MEC os premiados não sejam apenas as escolas, mas todos os envolvidos no sucesso.

Descrição da imagem: desenho do jogo da velha, com uma jogada não permitida (fazendo curva) que força a barra para ganhar o jogo com regras próprias