domingo, 31 de janeiro de 2010

Os mesmos culpados

Não é a primeira vez que escrevo a respeito de culpas. Segundo a Wikipedia, culpa se refere à responsabilidade dada à pessoa por um ato que provocou prejuízo material, moral ou espiritual a si mesma ou a outrem.

Seja pela nossa formação religiosa ou social, nós fomos criados para identificar culpados, não para resolver questões complicadas. Achar soluções para dificuldades implica em um esforço racional e operacional que ninguém quer ter. Por que se dar ao trabalho de desenvolver e aplicar soluções se é mais fácil atribuir a culpa dos nossos fracassos a outrem?

Essa maneira de encarar a vida está espalhada em todos os âmbitos onde existam seres humanos. Se o orçamento familiar não fecha, a culpa é do marido, da mulher ou do filho adolescente que estoura a conta telefônica. Se a empresa dá prejuízo a culpa é dos clientes que não compram. Se economia não funciona a culpa é do governo que não ajuda.

Na escola isso não é diferente. Se o aluno não aprende, a culpa é dele. Se o aluno for uma pessoa com deficiência ele passa a ser duplamente culpado: por ter a deficiência e por não se esforçar o suficiente para superar as suas limitações.

É bastante comum ouvirmos o discurso que o aluno não tem isso, que ele não consegue aquilo. Jamais ouvi uma escola dizer que ela mesma não teve competência para ensinar alguma coisa a um aluno (com ou sem deficiência), o que ouvimos é que o aluno deve procurar outra escola porque ele (de novo Ele) não se adaptou aos padrões da escola.

Nunca ouvi uma escola admitir que ela tenha dificuldades de ensinagem (não procure no dicionário, essa palavra não existe).

Se o aluno tem alguma deficiência a solução é despachá-lo para alguma entidade filantrópica onde ele possa ser devidamente isolado do mundo e não incomodar ninguém Se não tem deficiência, recomenda-se aos pais que procurem uma escola que seja menos exigente.

Mas também não adiantaria nada as escolas assumirem a culpa. Isso também seria uma solução cômoda para os alunos e pais. E não resolveria os casos frequentes de exclusão.

O que precisamos é parar de apontar os indicadores e partirmos em busca de soluções. A escola efetivamente assumir sua função educacional e entender que não existe ninguém que não possa aprender. Os pais e alunos se envolverem com os projetos pedagógicos. É preciso caminhar juntos, senão o único prejudicado continuará sendo aquele que deveria ser o objeto da educação: o aluno.

No momento em que conseguirmos nos desvencilhar dos complexos de culpa e das práticas de empurrar responsabilidades para os outros é que escolas e alunos vão ensinar e aprender juntos.
E, quem sabe, desenvolvendo esse modelo de busca de soluções e não de culpados, a sociedade, como um todo, se torne um lugar mais saudável para se viver.

Descrição da imagem: desenho de uma grande mão apontando o dedo para um boneco humano que cobre a cabeça envergonhado.